domingo, 20 de maio de 2018

DÁDIVA INTRANSMISSÍVEL

DÁDIVA INTRANSMISSÍVEL

A Morte Melancólica do Rapaz Ostra & Outras Histórias, de Tim Burton, interpretadas pelos alunos de Artes do Espectáculo – Interpretação, da Escola Secundária D. Pedro V, Lisboa, Dez. 2017. Encenação: Gonçalo Costa. Piano: Carolina Silva. 

     A atmosfera algo sombria e o humor negro de algumas destas histórias combinam-se com uma ténue luminosidade e emoções profundas, tão ao gosto de Tim Burton. A brevidade destas histórias ilustradas transporta em si uma imagem da própria fugacidade da vida, do melhor e do pior que nela acontece, reduzindo a acção ao essencial. Mas aqui o essencial não é nada de sublime e inefável, são as banais peripécias da vida, caricaturadas pelo absurdo, que se tornam decisivas numa engrenagem de determinismo social e psicológico. Como se fosse expectável que aquelas personagens naquele contexto agissem precisamente como agem, por mais absurdos e cruéis que sejam os seus actos. 
   Estas histórias estão escritas numa linguagem quase telegráfica que não apaga a densidade psicológica. Assim como quem quisesse reduzir a vida aos seus momentos mais marcantes e decisivos mas colocasse a tónica nas vivências interiores e no desenlace, mais ou menos trágico. 
   O humor negro, por vezes quase parece confundir-se com indiferença, como se todas as tragédias fossem inelutáveis, não porque o destino as determina mas porque as pessoas as determinam e consumam. E são os mais inocentes ou menos favorecidos pela dádiva natural da vida que são as principais vítimas deste determinismo social. A deficiência, qualquer que ela seja, passa de erro natural a culpa que ninguém quer aceitar. E assim, a vítima do erro natural é ainda mais castigada tornando-se também vítima do erro social. Se estas histórias podem fazer rir e sorrir, devem também fazer sentir, pensar e indignar porque o que retratam não são anedotas superficiais mas a realidade mais dura. 
   Levando o humor negro ao mais extremo absurdo, Tim Burton mostra de forma límpida como a discriminação banalizada e reduzida a actos convenientes e egoístas, é demasiado comum entre os humanos, mesmo entre os que se deviam amar e respeitar mais. A história do Rapaz Ostra é um bom exemplo disto mesmo. Os pais não aceitam o filho nascido diferente dos outros, reduzem-no a uma “coisa” e tentam eliminá-lo das suas vidas como se fosse um fardo, uma punição ou um erro injusto. Quem é duplamente vítima é apenas o Rapaz Ostra. 

Excerto:

«For their supper they had one spectacular dish-
a simmering stew of mollusks and fish.
And while he savored the broth,
her bride's heart made a wish. 

That wish came true-she gave birth to a baby.
But was this little one human
Well, maybe. 

Ten fingers, ten toes,
he had plumbing and sight.
He could hear, he could feel,
but normal?
Not quite.
This unnatural birth, this canker, this blight,
was the start and the end and the sum of their plight. 

She railed at the doctor:
"He cannot be mine.
He smells of the ocean, of seaweed and brine." 

"You should count yourself lucky, for only last week,
I treated a girl with three ears and a beak.
That your son is half oyster
you cannot blame me.
... have you ever considered, by chance,
a small home by the sea?"» 

(…) 

The doctor diagnosed,
"I can't quite be sure,
but the cause of the problem may also be the cure.
They say oysters improve your sexual powers.
Perhaps eating your son
would help you do it for hours!" 

He came on tiptoe,
he came on the sly,
sweat on his forehead,
and on his lips-a lie.
"Son, are you happy? I don't mean to pry,
but do you dream of Heaven?
Have you ever wanted to die? 

Sam blinked his eye twice.
but made no reply.
Dad fingered his knife and loosened his tie. 

As he picked up his son,
Sam dripped on his coat.
With the shell to his lips,
Sam slipped down his throat. 

They buried him quickly in the sand by the sea
-sighed a prayer, wept a tear-
and they were back home by three. 

A cross of gray driftwood marked Oyster Boy's grave.
Words writ in the sand
promised Jesus would save. 

But his memory was lost with one high-tide wave.» 




   Nestas histórias, não há personagens felizes ou perfeitamente inocentes e equilibradas. Há personagens que representam um estatuto, um estilo de vida, um modo de agir ou um facto incontornável da vida. Existe uma estrutura social e psicológica prévia; o que acontece a seguir torna-se tragicamente previsível. O mundo em que se movem parece permitir tudo, funciona segundo uma lógica egoísta e destrutiva em que a ética ou a pura sensibilidade não têm lugar. Mas é por isso mesmo que estas histórias suscitam uma profunda empatia para com todos os que sem culpa são colocados à margem da vida ou, pior ainda, são condenados a carregar o seu fardo, sós e ostracizados. Por isso, eu digo (no vídeo que acompanha este post) que se a vida existe mas não o “dom”, cabe a cada um criar e recriar esse dom nos que nasceram sem ele ou o perderam em alguma circunstância traiçoeira. 
   Vi esta peça há cerca de cinco meses atrás e já tinha há muito na minha mente o texto que iria escrever. A maior parte desse texto é o que fica acima. No entanto, há cerca de uma semana, quando o pequeno Alfie Evans foi condenado a morrer antes do tempo por um juiz no uso pleno das suas faculdades e do dom da vida, senti necessidade de escrever algo mais. A história “As Primeiras Janelas” é dedicada a ele e a todos os Alfies deste mundo. 


Encenação 
Gonçalo Costa 

Piano 
Carolina Silva 

Elenco 
Ana Carolina Cruz 
Rita Teixoeira 
Bárbara Soares 
Carolina Silva 
Carolina Trindade 
Diogo Fouto 
Filipa Silva 
Inês Silva 
Jorge Santos 
Yolanda Almeida 


AS PRIMEIRAS JANELAS 

     Nasci dentro de um pentágono, tal como tanta gente no mundo. Um telhado vermelho repousando preguiçosamente sobre quatro paredes robustas, uma porta e várias janelas. O que pouca gente no mundo tem é uma construção megalítica no quintal, pássaros pousando nos peitoris das janelas ou um vale a dez metros da soleira da porta. Mas mesmo que a diferença entre este lugar e todos os outros fosse apenas uma erva daninha junto ao portão que não existe, eu notaria a diferença. 
     Quem nasce em lugares como este conhece bem a importância decisiva do insignificante. Mesmo quando não se vê ou ninguém dá por ele, o insignificante faz modestamente toda a diferença. 
     E depois alguém diz: «Há qualquer coisa muito especial neste lugar mas não sei o quê…!» E ainda bem que não sabem porquê. Se soubessem que era por causa de uma simples erva daninha, do reflexo do sol em cada uma das minúsculas partículas de mica ou feldspato ou outra coisa qualquer, provavelmente ficavam muito desapontados e acabava a magia. Para eles, não para mim. A magia reside precisamente aí, no invisível e insignificante. E sem que ninguém dê por nada, cada coisa insignificante une-se a outras e outras até que todas as coisas insignificantes estejam unidas e criem a magia deste e de todos lugares. Mesmo que ninguém dê por isso, o insignificante e a magia estão lá. São mágicos guardiões de toda a vida. (1) 
     Pois bem, eu nasci dentro de um pentágono. Uma casa, dirão alguns. Um pentágono, digo eu, um pentágono extraordinário, cheio de coisas insignificantes, dentro, fora, por todo o lado! E mesmo que não houvesse coisas insignificantes por todo o lado, a minha mente encarregar-se-ia de as plantar por todo o lado. Tenho um enorme celeiro dessas sementes! Na arquitectura exterior deste pentágono nada há de excepcional. À frente uma porta, dividida em duas na horizontal, à volta várias janelas. 
     De cada janela vejo um sol diferente. É uma bela maneira de ter muitos sóis! E a paisagem e as cores que a luz pinta também são diferentes. Que é uma excelente maneira de ter muitos mundos dentro do mundo. Tudo muda em cada dia e em cada instante do dia. E depois há um dia em que o tempo parece parar ou me leva a viajar e eu vejo novamente o mesmo sol, a mesma luz, a mesma paisagem, átomo a átomo tudo regressa e eu digo “Eu já estive aqui! Ou foi tudo isto que voltou e nada mudou em mim? Talvez eu não me tenha movido, não tenha adormecido nem comido, talvez tudo isto passe o tempo a viajar e eu nunca mude nem me mova…» Mas no momento seguinte já a luz pinta outras cores e os ramos da mesma árvore oscilam de modo diferente, as nuvens passam mais lentas ou mais velozes e o céu sobre a montanha anoitece com novas estrelas, as que não vi ontem e as que acabaram de chegar. E tudo volta a fluir numa imensa harmonia de coisas novas e antigas. Que bom ter tantas janelas! São todas as primeiras, é sempre o primeiro olhar. 
     Também tenho muitas luas. Se me debruço desta janela, vejo um enorme disco de luz tocando as copas das árvores. Daquela vejo um arco de luz balouçando nas ondas. Há até uma de onde não vejo lua nenhuma mas sei que ela está lá. 
     No meu pentágono há lugares de luz e penumbra, uma infinidade de cores e formas que recriam o arco-íris a cada instante e de tantas formas diferentes. Depende da hora do dia ou da noite e das janelas que se abrem ou fecham. No meu pentágono podem ler-se as paredes, o soalho, o tecto. A luz passa e vai voltando páginas. A penumbra passa e volta outras. Estão escritas em muitas linguagens diferentes e as palavras são mais do que palavras, também são todas as coisas que habitam o meu pentágono e o mundo. Que grande é o mundo! Como é bela e infinita a vida quando a escrevo e leio neste livro! 
    Mas no meu pentágono também há outros livros, semelhantes aos das bibliotecas, são tantos que ocupam muitos lugares que não são seus, como os degraus das escadas, os baús de jardim ou as malas de viagem. 
     Depois de muitos e muitos dias a conversar com todo este mundo, um dia decidi fechar as janelas por instantes para descobrir o que estava para lá delas quando voltasse a abri-las. Quando voltei a abri-las vi mais do que vira antes. Vi por entre as árvores e as nuvens uma imensidade de janelas em que se debruçavam seres que não vira antes e todos os que já conhecia; vi árvores, arbustos, flores e frutos, nuvens e aves, lagos, rios, oceanos, vento e chuva, o sol e a lua, uma infinidade de animais e de gente. 
     Deixei todas as janelas abertas e fui lá para fora ver que fenómeno era aquele. Conversei com todos os seres com que me cruzei. As coisas naturais falavam em linguagens variadas mas semelhantes e as pessoas usavam quase todas a mesma linguagem. Não era um fenómeno sobrenatural, era só uma forma diferente de ver as mesmas coisas. 
   Algumas janelas estavam sempre fechadas, outras estavam sempre abertas, algumas iam-se fechando e abrindo e outras fechavam-se para nunca mais se abrirem. Essas eram janelas tristes, mas eu falava com elas e com os seres que lá tinham estado. 
     Num dia extraordinariamente belo, uma das janelas fechadas voltou a abrir-se. Lembrava-me bem do ser que lá estivera. Era muito pequeno e quase silencioso, sorria com toda a inocência e olhava para tudo como eu sempre olhara, como se fosse a primeira e última vez, profundamente grato por aquele instante. A janela abriu-se de par em par mas o pequeno ser não estava lá. Ainda assim eu via-o e sentia a sua presença. Gente passava em todas as direcções, olhavam-me, olhavam a janela aberta e vazia, abanavam a cabeça e seguiam o seu caminho. 
     Eu ali fiquei, sem hesitar nem duvidar, porque acreditava que o pequeno ser continuava lá. Dava os meus passeios em redor e voltava sempre para saudar aquela presença invisível. 
     Muitas estações depois, alguém começou a rondar o meu velho pentágono. Era uma criatura com uma longa capa negra e uma voz dura e solene. Não gostava de pentágonos nem de janelas abertas. Ordenou que todas as janelas se deviam fechar e nunca mais deviam ser abertas. Entendi, então, por que se tinham fechado tantas janelas ao longo do tempo. Tinha chegado a minha vez, a vez do meu extraordinário pentágono, que nem sequer tinha sempre a forma de um pentágono. Às vezes era um prisma multicolor, às vezes era uma nuvem, às vezes era uma árvore entre as árvores da floresta. Agora o nome pouco importa; alguém o comprou, barrou as paredes com cimento e pintou-as cor de sangue. As pedras, a mica e o feldspato reluzente lá ficaram a asfixiar debaixo da tinta. 
     Saí do meu pentágono de janelas fechadas. Assim já não era o meu pentágono. Fui para a floresta e aí construí uma casa extraordinária com uma única janela, que trouxera bem guardada na minha mochila, a do pequeno ser que eu continuava a ver. Em breve, a janela se multiplicou e a minha casa era feita apenas de janelas. Nem precisava de me debruçar nelas para ver as maravilhas em redor; elas estavam ao mesmo tempo dentro e fora da minha casa. Às vezes espreitava cá de fora só para ver se tudo estava belo e intacto como ontem. E estava, dentro e fora. O pequeno ser também estava lá, dentro e fora. Ora se sentava comigo a comer morangos ora corria livre como um pássaro por entre as árvores e as pradarias. De algum modo, acredito que vencemos a criatura sombria que tinha fechado todas as janelas. Nunca mais foi vista. A sua lei implacável continua por aí, mas também desaparecerá um dia. 
     Agora vivo ao ar livre e todos os lugares e todas as coisas são o meu infinito lar, meu e de todos os que vêem o invisível e amam as coisas insignificantes e belas que compõem a beleza primeira da vida. Boa-noite, ervas daninhas, grãos de areia e gotas de água! As estrelas brilham também para vós. 

São Ludovino, 29/4/2018 

(1) Como as redes de micélio e fungos mutualistas que permitem a preservação dos ecossistemas… tal como a alma, e a magia nela contida, preserva a beleza do mundo e da vida… 

Nota: História dedicada ao pequeno Alfie Adams, assassinado, em nome da lei, por um juiz que ama mais a morte do que a vida e se julga senhor das vidas que não lhe pertencem nem pertencerão nunca. Não se esqueçam de Alfie, da forma como viveu e morreu (28/4/2018). Cinco dias depois de as máquinas serem desligadas, continuava a viver, porque queria viver, porque gostava de viver, porque tinha o direito a viver, não importa como ou durante quanto tempo. Não se esqueçam também do tenebroso juiz, porque há muitos como ele por aí.



The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.




 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.
 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

 The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.

The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton, photography by São Ludovino.




Sem comentários:

Enviar um comentário