quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Palavras Antigas - I

 ABARCÁVEL

As portas que se abrem
No cair da tarde
Levam cada uma
A um ponto diferente
Do poente
Da vida
Do dia
Da clarividência.
É ela a rainha e senhora
Dos raios de sol
Da chuva e do vento
Dos passos e dos compassos
Do destino e do acaso.

No seu diário
Há reflexões iniciais
Sobre todas as filosofias
Jamais existidas e futuras
São crianças com cabeça de nuvem
São nuvens com asas de criança.

Que tardes cinzentas e luminosas
Estas em que tudo se contempla
De longe, muito longe
E tudo fica tão perto
E distinto
E completo
E explicável.

Nada parece haver de absurdo
Na incerteza
Na sombra que se ilumina
Na luz que se apaga
Nas nervuras da folha que seca
Na gota lenta que brota da nascente
E se perde nos veios da rocha.
É tudo uma questão de fé
Acreditar no deus certo
No momento certo.

O grande génio
A grande porta
O grande susto
A grande paz
É descobrir deuses
Para todos os momentos
Para todas as perspectivas
Todos os horizontes
Todas as combinações de realidade e ficção
Todos os estados de alma
Todos os actos
Todas as inquietações…
Estavas doente e já não estás
Tinhas medo, agora guia-te a coragem
Atravessavas a custo as veredas entre a multidão
Agora tens o mundo ao alcance
Da soleira dessa porta…

Suy / São Ludovino, 3/9/1991

The precious things that always remain, photography by São Ludovino.



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