ARMADILHA COM PÉTALAS
Diz uma voz:Se o medo é a lança
Que está no fundo da armadilha,
Façamos de conta que a morte não existe
Ou que somos nós a armadilha
Calota negra sem fundo
Manto envolvente e invisível
O vulto escuro da dor
O sono profundo da analgia.
Outra voz da mesma voz lhe replica:
Ou então a flor que não murcha
A semente do próximo sonho
A raiz que alimenta a árvore
A nuvem que alimenta a raiz
O cardume de estrelas que ilumina o universo
A gota de amor que semeia nuvens
Sobre todas as armadilhas.
E outra voz que ecoava as anteriores de um modo novo
Replicou com toda a tranquilidade:
Num momento ou outro
Todos conhecem a lança e a flor
É possível imaginar tantos “ses”
Metade deles são a armadilha
A outra metade são pétalas
Da flor que não murcha
Mesmo quando é trespassada pela lança.
É a própria lança que agora diz:
Se o medo é a própria dor
Amputação de membro indefinido
Sensação circular e pesada
Não vale a pena fazer de conta
Ousemos…
Suy / São Ludovino, 7/10/1983 (1:00 a.m.)
Unnoticed work I, photography by São Ludovino.
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