REPOUSO
Agora sim
Agora que posso
devorar o tempo
Em vez de o tempo me
devorar a mim
Vou saborear todo o
papel
Falante, pensante,
silencioso
As letras
saltitantes, viajantes
As palavras
escorregando das páginas
Cascatas e salpicos
Rios e oceanos, almas
de pensamentos
Fotogramas que posso
suspender, rever
Seguir até à foz ou
até à nascente.
Agora sim
Vou descobrir a
verdade escondida
Mesmo entre as
palavras escritas
Para serem esquisitas
Para não serem
entendidas.
Agora sim
Posso desaparecer e
ser o resto, o rasto
Coleccionar o que não
existe.
Agora sim
Vou mesmo viajar pelo
mundo
Levo-o na mala
Mora na minha casa
Adormece com o som
das rodas do comboio
As asas, as velas, os
pés… lá vão…
Agora sim
Um livro, uma folha
de papel
Pode mesmo ser a
história do mundo
E o mundo em si
mesmo.
Agora sim
Vou descansar à
sombra das árvores
E ler cada folha que
nasce, que cresce
Que cai, que seca,
que se levanta e voa.
Só me falta ser
também árvore, folha
Estação que volta
sempre
Livro infinito,
biblioteca cósmica
Do solo às estrelas o
tempo é de sentir
Aprender sempre,
voltar páginas, respirar
Enfim, repousar…
São Ludovino,
28/8/2023
Holding the cliffs II, photography by São Ludovino, 2023.
Sem comentários:
Enviar um comentário