segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Palavras Antigas - IX

 ADÁGIO AZUL

Entre aqueles dois homens
Havia a distância de meio palmo.
De um lado da rua havia algumas casas
E três candeeiros antigos.
Do outro, um campo quase baldio,
À excepção de três ou quatro barracas
Com cordas de roupa à porta.

À porta de uma, que estava pintada de cor-de-laranja,

Havia um conjunto de pedras grandes
Que formavam um círculo.
No meio, havia uma mesa de pau
Inacreditavelmente equilibrada em duas patas apenas,
Que não passavam de dois cabos de vassoura partidos.
Uma roda de bicicleta estava encostada à porta.

Um dos homens olhou naquela direcção e disse:

«Tenho a certeza de que alguém com mãos hábeis
Fascina e ludibria os que se sentam naquelas pedras…»
O outro esperou que o eco das palavras
Se apagasse na aragem e no ondular das ervas.
Depois disse: Já viste um pássaro azul
Pousado numa chaminé acesa?...
Eu já… quando vejo um bom truque de cartas
Lembro-me disso…
Na montanha é mais bonito
E há quase sempre pedras como aquelas à porta das casas…
Quando o vento vem do Norte,
O fumo sai mais dificilmente pela chaminé.
Os pássaros azuis vêm do Sul, contra o vento,
E pousam na chaminé…
Se eu fosse um velho da montanha,
Era capaz de dizer que havia um adágio popular
Que dizia que “Quando os pássaros azuis pousam numa chaminé,
O vento vem do Norte;
E se os pássaros são mesmo azuis,
Como o Sul,
Então, o fumo não sai
Porque o fogo é benevolente com o azul…»

Suy / São Ludovino, 30/10/1984 – 3 h manhã

Soft Gravity I, photography by São Ludovino.



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