MESTRE DE SI MESMO
Nem a vida nem o que não existe aindaPode ter um mestre ou discípulos a priori.
Na companhia dos cães o mestre de si mesmo
Fez a verificação experimental
Sobre a natureza do íntimo dos homens
E corroborou a teoria com a prática.
Viu passar Alexandre e os seus generais
Imperadores passados e futuros
Pesou-lhes a sombra com o olhar
Era opaca e pesada como o túmulo futuro.
Tinham dois braços e duas pernas
E sobre os ombros algo arredondado
Em que uma boca se movia
Faltava ver o que continha esse pequeno orbe
Que tudo quer e tudo comanda
Essa câmara escura onde nascem e morrem
Mapas do mundo, palácios e artimanhas.
Às vezes também lá aparecem, no orbe
Desmesuradamente inchado e fátuo
Mestres e discípulos discordantes
Mas desvanecessem-se rapidamente no eco
Da voz que os comanda e os obriga
A desaprender o que não pode ser ensinado
Sem ter sido intimamente aprendido.
Pelo mestre de si mesmo
Também passaram outros mestres
Uns mais peripatéticos do que outros
Uns com mais discípulos do que outros
E outras sombras e vozes sonantes
Tão entrelaçadas umas nas outras
Que lhe pareceram sempre as mesmas
E idênticas a outras que vira antes.
Ele, imutável, na sua viagem transformadora
Continuou caminhando e procurando
A transparência e a simplicidade.
Encontrou pedras sinceras e histriões patéticos
Imperadores vorazes e cobardes
Servos felizes por serem servos…
Ciente da impossibilidade de palmilhar a Terra
Em busca de um homem verdadeiro
Escolheu continuar na companhia
Dos únicos que viam nele um mestre
Que nada queria nem podia ensinar
E um companheiro atento:
Os cães rafeiros que viveram aprendendo
E foram sempre mestres e discípulos
De si mesmos…
São Ludovino, 25/9/2023
Watching the Galaxies Spinning I, phography & collage by São Ludovino.

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