Esta versão muito breve da "Escrita da História" faz parte de um "texto interminável" dividido e subdividido em múltiplas partes, com múltiplos narradores / sujeitos da enunciação e diversos estilos.
ESCRITA DA HISTÓRIA
(Versão muito breve)
Primeiro veio Homero
E só viu heróis e fracos
Vencedores e vencidos
Deuses e homens em desigual
Aliança e campos de batalha.
Depois veio Virgílio
E trocou apenas os nomes
De homens e deuses
E a história continuou feroz
Engrossando os rios de sangue
Dos homens, não dos deuses.
Depois veio Shakespeare
Penetrando nas almas e nas vidas
De homens e mulheres
Que se julgaram deuses.
Com a palavra os condenou
Ao inferno terreno que tinham acendido.
Depois veio Marx e o novo ópio
Mudou novamente a agulha da história
Traçou rigorosamente a nova matriz
(Como se fosse coisa palpável e exequível)
Que tanto pode gerar
O supremo utópico bem
Como o supremo mal hiper-real.
Cansados de ser matéria transacionável
Milhões venderam a alma
A fé e a consciência à nova matéria
De boa vontade crédulos e coniventes
De olhos vendados caminharam
Para o abismo universal do Grande Pai
Repetindo sempre o slogan:
«Agora começa a história
Um novo mundo, uma nova irmandade…»
Na génese, eu não estava lá, mas vi claramente
A nova matéria apodrecer através dos tempos
E levar na enxurrada todos os sonhos do mundo…
São Ludovino, 23/9/2023
Candle in the Wild I, photography by São Ludovino.
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