UM MUNDO DE PEQUENOS NADAS
Pequenas palavras
Apanham um homem distraído;
Fazem-no voltar a cara
Ou tropeçar num brilhante grão de areia
Que se agarra à sola e lá fica, teimosa.
Bofetadas de mãos invisíveis
Não têm culpado, apenas suspeitos.
Alguém carrega num botão
E o mundo inteiro saliva.
Os cães estranham o fenómeno e afastam-se…
Raramente alguém compara cabelos
A oceanos de prata
Sem que a frase seja estudada…
Nem sequer a campos de feno.
Cabelos velhos e baços
Raramente inspiram os poetas do costume…
As folhas de papel que se encontram
Perdidas nas ruas
Raramente estão em branco;
Não prometem mais do que a sorte
Para um num milhão…
A cada segundo, mais um milhão perde a árdua fé
E sucumbe à credulidade fácil.
A sorte é a última deusa dos aflitos e dos ingénuos…
E mais um voltou a cara
E mais outro olhou-o de soslaio
E outro passou ao largo e levantou o queixo…
Depois veio o lixeiro e varreu tudo
E antes que se fosse passou um carro
E lançou mais palavras pequenas e coloridas
Pelas janelas fumadas, escancaradas…
Nem chegam a pousar.
Esvoaçam em busca de crentes
Curiosos e desiludidos.
Há quem as coma à sobremesa
Quem as venda em segunda mão
Quem as leve a passear junto à marginal
E quem as apresente aos amigos
Como alma gémea finalmente encontrada…
Suy / São Ludovino, 15/4/1985 – 3h manhã
The
Words in the Eyes, drawing by São Ludovino.


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